quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Nem Eduardo, nem Mônica



Ao contrário da música, onde dois se estranhos se encontram e descobrem afinidades, aparentemente Cunha e Dilma não se misturavam, eram água e óleo.

Dilma é arrogante, impaciente e mal educada. Alguns ainda tentaram comprovar haver um preconceito com ela por ser a primeira mulher a ocupar a presidência, mas, mesmo que fosse verdade e haja uma certa impaciência ou intolerância pelo seu gênero, estas características acima descritas, prevalecem. Não agir com preconceito nesta hora é simplesmente entender que ela ser mulher ou não, não pode importar. Ela precisa ser julgada com o mesmo rigor que os homens deveriam também ser julgados. E Dilma mostrou não ter habilidade para representar em si um dos poderes da nação.
Cunha já está lá desde Collor. Rodou os círculos do poder. E a partir do governo Lula, com o tipo de relação que se estabeleceu com o congresso, se refastelou. Foi oficial graúdo da tropa de choque governista e até se arvorar ao direito de assumir a câmara, concorrendo com uma base petista pouquíssimo articulada, era muito bem quisto no planalto.

Não achem que estou dizendo a bobagem de que a corrupção começou no governo Lula. Não é isso. Antes da ditadura, ela já estava lá. E vai continuar.
A questão é o modus operandi do sistema. Voltando apenas ao governo FHC, haviam três grupos dentro do congresso. Governo, oposição e independentes. Nestes últimos, havia uma divisão clara, partidos que não se alinhavam com o governo ou com a linha do "contra tudo e contra todos" que o PT adotava e os deputados avulsos, sem alinhamento ideológico a nenhum grupo, na grande maioria formados pelos partidos nanicos e do baixo clero.

Com vitória do Lula e do sistema montado por Dirceu, onde este último foi buscar o que faltava para montar a base governista? Nos independentes. O PT passou a chamar de "companheiro" todo e qualquer um que lhe manifestasse apoio e estes,  por sua vez, estabeleceram o valor de sua fidelidade. Mas, isso não sai  barato. Se alguns são literalmente comprados para compor a base governista, é óbvio que os que eram base por acordo político ou por afinidade ideológica, estava cobertos de razão em cobrar os mesmos "mimos". Essa foi a receita para um governo perder o controle, a  barganha virou mote de qualquer negociação. O que poderia ser eventual, virou  rotina. O que era para ser "free lance", ganhou ares "de vínculo empregatício". E a sanha da corrupção não tem fim.  A caixa de Pandora foi aberta. O que havia para sair, saiu e estava à solta.
Dilma sempre soube que uma hora a conta inaugurada por Lula não fecharia. Se era para trabalhar pela via da corrupção, perderam a chance de fazer as reformas. Se pagou por muito pouco. O que era essencial não entrou na ordem do dia.

Um dia a fonte havia de secar e secou. Fecharemos o ano com déficit previsto e legitimado próximo aos 120 bilhões de Reais. Veja bem, mesmo aumentando impostos, o déficit do ano chegou aos três dígitos. E assim, o governo perdeu de vez o controle de seu base. O PMDB, sempre ele, foi o primeiro a se mostrar incomodado. Queria mais benefícios pela sua função estruturante no governo. Com habilidade, o partido mais heterogêneo do país, mostrou suas armas: para manter a presidência com seu aliado, exigiu tudo que pode. A ele coube o controle supremo do processo legislativo, coube a vice-presidência, coube governos onde poderiam haver alternativas e novas lideranças petistas. A armadilha foi montada. E Dilma e o PT entraram nessa, embalados por um Lula absolutamente embriagado pela necessidade de manter a presidência na sua área de influência e pela obstinação em conquistar a torre de marfim tucana: São Paulo. Rifaram até as chapas proporcionais para deputado federal em vários estados. Não sei em quantos, mas, o efeito foi óbvio. A bancada do PT era para ser maior e encolheu. A primeira vista, inexplicável o partido do presidente eleito encolher se a oposição também encolheu. E quem cresceu? Quem se tornou gigante dentro do governo: o PMDB. Se no primeiro mandato de Dilma, o PMDB e o PT se equiparavam em força congressual, no segundo mandato, o primeiro se tornou senhor das ações.

Os poucos partidos à esquerda que fazem oposição ou questionam o governo Dilma já questionavam a permanência de Cunha na presidência da casa legislativa. PPS e PSOL colidiam frontalmente com a mesa diretora na busca de que Cunha de lá fosse retirado.
E que faltava para isso? Faltava o PT sair da berlinda. E acho que a prisão do Senador Delcídio do Amaral foi crucial para o desfecho. A falta de coordenação da base petista, somada a viagem de Dilma a Paris, permitiu que a direção do PT se movimentasse de forma a romper o acordo. A questão é: com que intuito?
Por tudo isso, o momento que se avizinha é de incerteza? É. Mas, todos já sabemos que o trio Renan, Cunha e Temer terão momentos a sós para discutir o futuro deste governo e da nação.
Muitos estão "cunhando" um Cunha chantagista e traidor. E chantagista ele é, assumidamente. Mas, quem traiu quem? Por dez meses, esse processo de impeachment foi seguro por ele. Não se enganem. Cunha e o governo Dilma foram "unha e carne" nesse caminho desgastante da tentativa de salvá-la do processo de impedimento legal e de impedir que ele tivesse seu comportamento ético questionado no órgão responsável da casa. O PT entrou neste jogo sabendo o que estava em disputa. Cunha nunca refutou a ideia de que se vingaria se fosse deixado ao léu. E assim o fez, sem pestanejar. E isso, por si só, já contamina todo o processo.


Cedo ou tarde Cunha iria tropeçar, isso era nítido. As investigações fechavam o cerco. Se é verdade que Cunha realmente mantinha Dilma inabalável, apesar das rusgas públicas entre ambos, sua queda significaria que cedo ou tarde, ela também poderia ser atingida.

O que resta ao PT? O que sempre fez. Soar como vítima que se defende. Como o animal que reage ao seu algoz. Talvez seja este o intuito em provocar a "onça com vara curta" justo agora. Dado o tamanho do imbróglio em que se meteu, talvez fosse a muito tempo sua única saída ou a única que vislumbra. Se o fim de Dilma estiver próximo, seu partido vai repetir como um mantra em todos os pronunciamentos que ninguém  soube jamais dos atos cometidos e que a oposição os persegue implacavelmente, sendo muito mais suja que eles. Veja bem:  o PT já fala em oposição MAIS suja e não em oposição suja. Ele já sabe que não há onde esconder sua sujeira. Mas, mesmo assim, que ele faça este questionamento, eu pergunto: que oposição? Quem derruba o arranjo governista é a própria má gestão da base do governo. A oposição pouco ou nenhum barulho faz. Nem mesmo tem uma liderança na qual se apoiar e se contrapor. Esqueçam Aécio. Deputados poucos conhecidos nacionalmente do PSDB tem tido atuação muito mais destacada que o senador tucano.

E Dilma, pode reagir? Existe alternativa para ela, mas, é bom lembrar, a posição dela dentro do PT é muito parecida com a do Senador preso. Dilma não era petista até ser apadrinhada por Lula e arrebanhada para trocar o PDT pelo partido da estrela solitária. Alguém acredita mesmo que o partido se sacrificará para salvá-la, se ficar evidente que ela tem culpa ou sabia de algum dos elementos que compõe os crimes investigados pela "Operação Lava-Jato" da Polícia Federal?
O que vai acontecer com Cunha agora, para o governo e para o PT, pouco importa. Ele só controlará a agenda das sessões, mas, elas passam a contar o prazo para análise do processo contra a presidente.
Se e somente se, por algum motivo que desconhecemos, Dilma desenvolva a habilidade de negociar e ser flexível, há possibilidade dela escapar. Caso contrário, podem entregar a faixa ao Temer.
E que venha 2016, quando descobriremos o qual será o preço cobrado do PT por todo esse processo. As urnas é que vão trazer a resposta.




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