segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Apito Final?

Então é isso. Fim de jogo? Não. Muito antes pelo contrário. Que consigamos manter esse nível de mobilização nos próximos momentos.

Ao contrário dos xiitas de ambos os lados, estou tranquilo. Não vou embora do meu país e nem acho que Dilma foi "ungida" por Deus como li de alguns. Decepcionado com imbecis que se sentem ofendidos pela vitória de outros e mais decepcionado ainda pelos que ao comemorarem a vitória, repetem o discurso "nós x eles", "casa grande x senzala", "nordeste x Sul". Das estratégias de Lula, essa é a que mais me incomoda, porque explicita uma divisão que só se forma no momento em que estabelecemos essas fronteiras. Não precisamos apontar diferenças. Precisamos superá-las.

É o jogo da democracia. Para o bem ou mal, o PT preencheu em muito uma lacuna que outros não ocuparam: deu atenção a uma parcela da população que sempre se sentiu alijada do jogo político. Esse é um ponto positivo. Trouxe para arena quem antes estava fora, ampliou o conceito de cidadania.

Acho importante PROUNI, Ciência Sem Fronteiras, PRONATEC? Acho, são mesmo. São uma resposta a uma demanda que o governo Fernando Henrique criou e que o PSDB quando estava no Alvorada não soube explorar: a universalização do ensino. Não é um elogio ao PSDB, é uma crítica. O partido que universalizou o ensino público, não percebeu que não parava aí, criou uma demanda e o PT soube atender a essa parcela da população. E nas redes sociais foi justamente essa parcela que empunhou a bandeira do PT.

E dos 48, 49% que votaram em Aécio Neves? O que sobra? Sobra uma parte imensa da população que ou não se sente representada ou quer mais. Quer reformas AGORA.

Mas, dos dois lados desse plebiscito do qual saímos, esse lado, a minoria, é justamente o mais heterogêneo. Que nesse momento sai com a sensação de derrota, muito em parte devido ao prazer exacerbado dos que citei acima, que acham que a vitória é vangloriar-se sobre o outro. Mas, não houve derrota, porque o recado foi dado. Dilma já é presidente, tem uma posse simbólica pela frente, mas já está lá. Pode começar agora a responder a quem se aglutinou na oposição por um país mais honesto, mas transparente.

Queiram ou não, ela tem uma formação a qual admiro ainda mais que a que Lula teve, a história dessa mulher faz com que eu acredite que há lá no fundo dela também um brilho que agora pode fazer a diferença. O lado da guerrilheira revoltada é o mais lembrado, mas me interessa muito mais o lado da mulher que se desdobrou para sobreviver com um marido preso, com uma filha para criar e que precisava se formar e que passou por isso sob os olhos atentos de uma ditadura que a marcou como inimiga.

Ela pode ser pouco hábil no manejo com o congresso, mas o recado foi dado durante todo o processo eleitoral: estamos todos cansados de Renans, Sarneys, Barbalhos, Collors de Melo. Eles vão cobrar a fatura desse momento, que ela saiba o que lhes é devido, mas que perceba que daqui para frente há uma sociedade mais atenta e que tenta se reinventar sem eles.

Que venham as reformas. Que ELA tenha coragem de romper com quem acha que a colocou ali e por isso a ela só é permitido uma vertente, um caminho tramado nos bastidores. Esse é o momento. Se ela quer unir um país, é rompendo com alguns desses que vai lhe ser permitido construir uma ponte, uma ponte entre os querem uma reforma geral na fazenda, porque quem mais se engana são os que acham que ainda existem uma casa grande e uma senzala. Elas continuam de pé, mas ninguém pode dizer mais quem frequenta uma e outra, quem pode entrar e quem pode sair.
Parabéns a todos que como eu, sentem um prazer imenso em ver o jogo democrático funcionando. Mais uma vez, sobrevivemos.



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