Em reação à tentativa do bloco governista impor a tramitação em regime de urgência
no Senado do projeto que asfixia novos partidos, Pedro Simon (PMDB-RS)
pronunciou um discurso com duros ataques a Dilma Rousseff. Comparou-a ao
general Ernesto Geisel, que presidiu o país de 1974 a 1979, durante a
ditadura.
“Talvez tenhamos que nos referir à marechala
presidente”, ironizou Simon. “Talvez, daqui a pouco, ela tenha que
aparecer com um casaco diferente. Pode até continuar sendo vermelho, sua
cor preferida. Mas com estrelas.” Para Simon, o projeto que o governo
deseja aprovar a toque de caixa assemelha-se ao “Pacote de Abril”,
baixado por Geisel em 1977. Daí a analogia.
Depois de apoiar e até
auxiliar Gilberto Kassab a fundar o seu PSD, o Planalto e seu consórcio
partidário pisam no acelerador para aprovar a proposta que restringe o
acesso de novos partidos às verbas do fundo partidário e ao tempo de
propaganda no rádio e na tevê. Por quê? Para asfixiar legendas novas que
se organizam para servir de suporte a Marina Silva e Eduardo Campos,
dois potenciais adversários de Dilma.
“Ontem, ajeitou-se tudo para
resolver para o PSD. Terá ministério, tem tudo preparado para ir para o
governo”, disse Simon, referindo-se ao partido que Kassab criou a
partir de uma dissidência do proto-oposicionista DEM. “Tudo bem. Está
feito. Mas agora, de uma hora para outra, de uma semana pra outra,
querem fazer tudo para evitar a Marina [Rede] e o MD [Movimento
Democrático, nascido da fusão do PPS com o PMN]. Não pode ser. Não tem
condições.”
O Pacote de Abril, evocado por Simon e por outros
oposicionistas para desqualificar o projeto que o Planalto empina,
incluiu o fechamento do Congresso. “O PT só não fecha porque não tem
força para tanto”, disse Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que endossou a
comparação feita por Simon.
Quando Geisel editou o seu “pacote”,
os militares vinham de um revés eleitoral, sofrido em 1974. O regime
perdera as eleições na maioria dos Estados. Para não perder também a
maioria no Legislativo, alterou as regras da eleição de 1978. Decidiu,
entre outras coisas, que metade das cadeiras que estavam em jogo no
Senado seriam preenchidas por senadores biônicos, sem voto.
No seu
discurso, Simon comparou o PT à Arena, o partido da ditadura. Recordou
uma cena que testemunhara horas antes. “Hoje de manhã, assistimos na
Comissão de Constituição e Justiça delegados de polícia e senadores do
PT, de mãos dadas, cantando o hino nacional, porque foi aprovado projeto que dá força aos delegados contra os promotores [que tiveram os poderes de investigação podados]”.
Simon
prosseguiu: “No mesmo dia, agora à tarde, vamos ver nossos amigos da
Arena fazendo um novo festejo. Esse é o Pacote de Abril. Meus amigos do
PT, foi com esses pacotes de abril que a Arena colocou senadores
biônicos aqui no plenário. Foi com iniciativas como essa que a Arena
explodiu. E o PT está caminhando na direção da implosão.”
Simon
vaticinou: Dilma, “que tinha o carinho, o respeito e a credibilidade vai
ver para onde vai baixar o seu prestígio. Ela vai se identificar com o
que tem de mais triste, de mais infeliz, de mais vulgar na políitca
brasileita.” Voltando-se para o líder do PT, Wellington dias (PI),
indagou: “O PT aceita essa humilhação? Os líderes do PT são obrigados a
dizer amém para uma coisa dessas?”
Nesse instante, os senadores se
revezam no microfone do Senado. Debatem o pedido de urgência par o
projeto que submete os novos partidos ao torniquete das verbas do fundo
partidário e do tempo de rádio e tevê. Se for aprovado, o regime do
toque de caixa permite que a proposta seja apreciada sem passar pelas
comissões do Senado. Se isso ocorrer, pode ser aprovado já na próxima
semana. Presente, Marina Silva assiste a tudo. Veste preto.
Simon
não foi o único filiado do PMDB a se opor à proposta que a direção do
partido, a começar do vice-presidente Michel Temer, defende
ardorosamente. Além de Simon, discursaram contra o projeto os pemedebês
Jarbas Vasconcelos (PE), Roberto Requião (PR), Ricardo Ferraço (ES) e
Cassildo Maldaner (SC). A matéria dividiu também a oposição. O DEM,
escaldado pela erosão que Kassab provocou em seus quadros, é a favor. O
PSDB do presidenciável Aécio Neves é contra.
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